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Cynefin – Framework (Parte 3)

Dando continuidade aos domínios do framework Cynefin falaremos do terceiro domínio, Complexo. Os links dos artigos anteriores encontram-se no final do texto.

Complexo

Este domínio é considerado Desconhecido Desconhecível (Unknown unknowns), e pertence ao Sistema Complexo-Adaptativo. Não existe uma relação clara entre causa e efeito, não sei a resposta e olhar exemplos passados não fazem com que eu consiga relacionar os agentes, o máximo que tenho aqui são hipóteses, e partir delas avanço.

Um exemplo que gosto sobre a diferença entre Complicado e Complexo, vem de um livro de Paul Cilliers chamado “Complexity & Postmodernism”, que faz uma afirmação inusitada, um Jato é complicado, maionese é complexa. A lógica utilizada transcrevo abaixo:

Com isso quero dizer, um jumbo é composto de milhões de pequenas partes. Se você tivesse o tempo, a paciência, a habilidade e um bom manual, poderia desmontar o avião e colocá-lo novamente em ação.

A maionese é diferente: é uma suspensão estabilizada – o resultado da interação de seus ingredientes … e da maneira como você os adiciona uns aos outros. Você não pode tirar maionese separadamente para produzir os ingredientes originais e depois recombiná-los, como qualquer cozinheiro amador sabe. Complicado é redutível e recombinado; A maionese, por outro lado, não é uma dessas coisas.

Aqui está uma lição importante: o comportamento de massa é inerentemente complexo porque é baseado na interação de agentes individuais. Mas tentamos entendê-lo como se fosse complicado… É por isso que achamos difícil de entender.

Eu consigo através de engenharia reversa entender a causa e efeito que geram um Jato, mas com a maionese não.

No domínio Complexo nós realizamos experimentos, percebemos os resultados e com isso agimos de acordo, repetindo esse ciclo até um resultado aceitável e que possa ser estabilizado e reproduzível, para migrarmos para o domínio Complicado. Como exemplo falaremos da criação de um novo produto.

Quando um novo produto está em desenvolvimento realizamos experimentos (Sondamos), e de acordo com o que aprendemos (Sentir), agimos em sua melhoria (Responder) rumo a um estado definitivo e replicável (Complicado).

Reparem nesse exemplo as principais características:

  1. Temos padrões que podem ser descobertos;
  2. Temos restrições adaptativas para experimentação (Quanto mais atuamos junto aos clientes, mais aprendemos sobre o produto e melhor ele fica)
  3. Práticas emergentes, afinal estamos descobrindo algo novo (Não temos ainda a “receita” para o sucesso do produto, e conforme aprendemos criamos práticas para garantir sua replicação)
  4. Temos uma confusão coerente, e discernível através de padrões (Conforme ativamos as restrições percebemos as mudanças e avançamos ou recuamos de acordo com as descobertas)
  5. Criação de experimentos seguros para falha (Simulações, testes com grupos fechados e outras práticas para garantir a evolução sem maiores danos ou prejuízos)
  6. Quanto maior a diversidade maiores as chances de descoberta de oportunidades
  7. Nossas interações mudam o ambiente constantemente (A cada experimento ou restrição ativada temos que validar de novo o que mudou em relação ao resultado anterior)

Se o Complicado é o lugar do especialista o Complexo é para descoberta. Uma analogia que gosto, é que quando falamos de uma oportunidade que poucas pessoas são capazes de explorar (Especialistas) chamamos de mar azul pela falta de concorrência, porém o Complexo é a cartografia desse mar azul.

No domínio Complexo as restrições precisam ser “ativadas”, e temos as restrições Mutantes e Permeáveis que garantem isso. Por exemplo usamos um produto de formas diferentes de acordo com as descobertas que fazemos, e isso faz com que alteremos o produto, o que novamente pode alterar sua forma de uso.

Uma palavra que aparece bastante vinculada ao domínio Complexo e ajuda entender vários dos conceitos apresentados é exaptação.

Exaptação significa uma característica de algo que evoluiu, mas que não é considerada uma adaptação. Essa palavra originalmente usada para biologia pode ser utilizada também para produtos.

Um exemplo clássico de exaptação de um produto é o Viagra, que originalmente era utilizado para tratamento de hipertensão arterial e que foi reconfigurado de acordo com seu efeito colateral.

Aqui o maior perigo é não perceber que estamos lidando com um sistema Complexo-adaptativo e tratarmos como sistema Ordenado, estamos lidando com hipóteses como se fossem certezas e isso nos leva a falha catastrófica.

Como exemplo imaginem uma empresa com todo seu ecossistema, cultura e interações humanas existentes, e tente utilizar algum “framework ágil da moda” como se fosse Plug and Play (Eu gosto de chamar de Plug and Pray). Estamos falando de um ambiente altamente complexo e tentamos tratar como ordenado, logo, temos falha catastrófica…

Claro, Complicado e Complexo feitos, avançaremos para Caótico e Desordem. Tem dúvidas quer saber um pouco mais sobre o tema ou sugerir outros exemplos. Participe!

 Até a próxima!

 

Leandro Sanches

Agile Coach

Aqueles que chegaram agora e querem saber mais sobre o assunto vou deixar aqui os links dos artigos anteriores:

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