“Vocês lembram quando o Barrichello desacelerou para que o Schumacher ganhasse o Grande Prêmio em 2002?”
Essa foi a frase que ouvi em uma conversa completamente aleatória em uma roda de amigos que me fez transcender de onde estava para algo tão recorrente em nossas organizações: Sistema de Metas.
Talvez quem seja um pouco mais novo não irá se lembrar do ocorrido, mas basicamente o fato ocorreu a alguns anos atrás em que houve uma das cenas mais controversas na história da Fórmula 1, quando o brasileiro Rubens Barrichello e o alemão Michael Schumacher (ambos pilotos da Ferrari), estavam competindo no GP da Áustria. Nosso brasileiro liderava a corrida e por ordem da Ferrari, a poucos metros de conseguir o primeiro lugar, abriu mão da vitória para Michael Schumacher, para que este vencesse e conquistasse um maior número de pontos na temporada.
Com o assunto em pauta na roda de amigos, me vieram dois questionamentos:
1. A Ferrari pensou nas consequências ao determinar à vitória de Schumacher para garantir pontuação e para ter o piloto vencedor da temporada?
2. Quais os riscos para à imagem do piloto e da equipe ao vencer com este tipo de manobra?
Após algumas breves leituras no Google, constatei que talvez a estratégia não havia sido alinhada, visto o constrangimento dos pilotos em diversas fotos e que a ordem da ultrapassagem fora feita sob ameaça. E é sobre essa palavra: ameaça, que meu deu um outro clique ao lembrar do Triângulo de Sobrevivência do Massari.
Pude observar claramente que Rubens Barrichello se tornou um sobrevivente ao deixar que o companheiro ganhasse a corrida.
“Sobreviventes moldam seu comportamento de acordo com as metas e processos definidos” – Hiflex Consultoria: Imersão Ágil II
Dado o contexto, devemos considerar a Cultura vigente na Ferrari, com seus processos e metas para alcançar seus objetivos.
Compreendi que o brasileiro não teve escolha e caso não executasse à ordem da Ferrari, sofreria as consequências. Naquele momento a pirâmide de Maslow também foi cumprida, onde sua base traz a garantia das necessidades fisiológicas e em seguida a de “Segurança”.
Então te questiono:
1. A Fórmula 1 alterou algumas regras após o ocorrido. A proibição das equipes definirem o resultado da corrida é uma resposta direta às ações da Ferrari. Mas será que as regras também foram alteradas dentro das equipes?
2. Será que episódios como estes são tão surreais em nosso mundo corporativo?
3. Posso considerar você balançando a cabeça negativamente para as perguntas acima?
Chega a ser incrível o quanto as consequências podem ser desconhecidas frente a ações não alinhadas, o quão desastroso pode ser quando pontos importantes não são vistos e revistos adequadamente por todos os envolvidos.
A Ferrari conseguiu ganhar o campeonato, mas a que custo? Em diversas reportagens é visível o quanto sua imagem ficou “manchada”, fora a multa de US$ 1 milhão, multa esta que existiu não por conta da ordem de equipe, mas sim pela quebra de protocolo no pódio, uma vez que Schumacher colocou Rubinho em primeiro lugar e deu ao brasileiro a taça de vencedor. Observe como uma ação pode influenciar todo o sistema, seja ele de baixa ou não latência e como bons frutos (ou não), podem advir deles.
Vale lembrar que mesmo após a este episódio desastroso, em junho daquele mesmo ano Barrichello liderou a prova no GP da Europa com Schumacher logo atrás, conseguindo assim cruzar a linha de chegada em primeiro para vencer pela segunda vez na F1. Porém, cá entre nós: Quem lembra dessa corrida após o desastre da anterior, não é mesmo?
Em suma, é perceptível a quantidade de profissionais que tentam desenvolver seus times ou se desenvolverem, porém uma grande massa de regras e processos permitem que este crescimento fique em “stand-by”. Logo a propagação de sobreviventes cresce, o atraso das entregas permanece… O sentimento de vitória “do grande prêmio” se perde.
Um fato é:
“Você só muda uma cultura quando mexem no seu movimento de sobrevivência” – Hiflex Consultoria: Imersão Ágil II
Obrigada pela leitura.