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Porque é difícil medir a maturidade ágil e os radares falham?

Nos últimos anos dezenas de empresas, incluindo consultorias especializadas, montaram, lançaram e apresentaram por ai modelos e padrões de análise de maturidade ágil, muitas vezes mostrados como radares, apontando que área, disciplina, papel ou atividade era feita com mais ou menos maturidade, apontando percentuais, score e cálculos de onde trabalhar, evoluir ou manter.

Parece bem bacana na teoria, mas na prática, a maioria destes radares de maturidade ágil não funcionaram, e alguns até prestaram um desserviço para os trabalhos de transformação ágil e business agility, principalmente porque muitos foram na linha de analisar se práticas, métodos e eventos estavam sendo realizados, se alguns papéis existiam, e se alguns artefatos eram aplicados.

Ué, e isso não é uma forma de analisar a maturidade de ambientes de trabalho? Ai que está o problema, no ágil não!!!

É sobre isso que eu quero falar neste artigo, quero te mostrar o que não funciona quando analisamos maturidade em ambientes ágeis e híbridos e porque muitos destes radares de maturidade ágil falharam miseravelmente, e claro, qual seria um dos caminhos ideais para ter uma análise de maturidade ágil na sua organização.

Análise de maturidade tradicional

Antes de irmos para o Ágil, vamos falar um pouco das origens das análises de maturidade que o mercado conhece. Vários modelos de maturidade, incluindo vários dos mais famosos, são baseados em um conjunto de perguntas e respostas que transformadas em questionários a serem respondidos por um ou mais grupos de pessoas mostram o nível de maturidade da organização observada.


Geralmente este questionário pergunta se eventos, reuniões, documentos, papéis, responsabilidades e ferramentas existem e são aplicados na totalidade ou parcialmente, e o nível de aderência a todos estes itens irá representar o nível de maturidade atingido, quanto mais tudo é feito conforme o questionário aponta, maior é a maturidade, e quanto mais está fora das respostas boas, menor e a maturidade.

Qual o ponto chave destes modelos? A previsibilidade baseada em históricos de uso de boas práticas e resultados anteriores que comprovam que se tal método ou prática é realizada, se existem tais documentos, se tais ferramentas são utilizadas, se tais controles são feitos, o resultado é maior e mais garantido. É aqui que temos o distanciamento dos ambientes ágeis. Vejam que o ponto chave destes modelos é justamente a previsibilidade dos trabalhos e a alta relação de causa e efeito, justamente o que não existe em grande número no ágil.

Suposta análise de maturidade ágil realizada por ai

Em muitos casos as empresas montaram os seus radares de maturidade ágil considerando perguntas como:

  • O Scrum é utilizado?
  • Existe Product Owner definido e disponível?
  • As Sprints são realizadas com tamanho fixo e constante?
  • Todas as cerimônias do Scrum são realizadas?
  • Existe Scrum Master?
  • Existe Backlog?
  • O Backlog é priorizado semanalmente?
  • Ferramentas como Jira, Azure Devops e Kanbanize são preenchidos diariamente?
  • A estimativa é realizada pelos Developers?
  • Existe Definição de Preparado ou Definição de Pronto?

Em outros casos não se limitavam ao Scrum não, e tinham perguntas como:

  • O Kanban é utilizado?
  • O WIP é limitado?
  • Os histogramas e CFDs são preenchidos e acompanhados?

E alguns ainda foram para a padronização geral de algumas políticas como:

  • Todos os times usam o mesmo modelo de Kanban?
  • Todos os times usam a mesma “configuração” de Scrum, mesmo tamanho de time, mesma duração de Sprint, mesma pontuação de história?

Veja só o que geralmente estava sendo medido: Realização de cerimônias, utilização de artefatos, existência de papéis, respeito a regras e políticas, tudo focado à método e práticas, porém, em ambientes ágeis não é garantido que o uso de um método X com uma configuração Y irá trazer o resultado W esperado pela organização.

Então, modelos de maturidade que olham para como o trabalho é feito tendem a ter um resultado pífio ou zero em ambientes ágeis, porque muitas vezes não importa como você está fazendo, e sim o que você está fazendo e qual resultado você está atingindo.

Então como medir a maturidade em ambientes ágeis?

Quero deixar claro que as práticas são importantes e muitas vezes precisaremos começar por algum modelo pré definido ou método de trabalho para que possamos sair do zero, e, seguir por um tempo o que está no “by the book” para aprendermos e começarmos a modificar e criar o que se encaixa perfeitamente no nosso ambiente, e depois, quem sabe, chegar no estado da arte. 

Falávamos muito sobre o conceito e filosofia japonesa do SHU-HA-RI há uns 10 anos, que era justamente para apresentarmos os três passos de aprendizado e desenvolvimento. 

O primeiro passo representado pelo SHU é o de seguir as regras, ou seja, usar modelos e métodos existentes conforme estes são prescritos. 

O segundo representado pelo HA é o de quebrar as regras, onde uma experiência já foi adquirida e já é possível começar a melhorar as práticas de acordo com a própria experiência. 

Por fim, o terceiro passo representado pelo RI é o de Extrapolar as regras, onde as regras não são o ponto mais preocupante ou mais importante, e a partir deste ponto é possível criar as suas próprias regras, métodos e formas de trabalho.

Então veja, falei do SHU-HA-RI, porque sou a favor desta filosofia e conceito, inclusive na vida, sou praticante de arte marcial há anos, e na arte marcial o SHU-HA-RI esta totalmente impregnado e só é possível evoluir nas artes marciais seguindo exatamente estes três passos.

Porém, podemos usar o SHU-HA-RI também para mudar o nosso olhar em relação a análise de maturidade ágil. Veja, ter uma alta maturidade não é executar todos os métodos conforme prescreve a cartilha e muito menos seguir todas as regras. Fazendo um analogia, na arte marcial este é o momento que o aluno está iniciando, nas primeiras faixas, faz tudo errado, tudo é perigoso, pode se machucar, por isso as regras são fundamentais, e veja, o aluno iniciante não tem maturidade nenhuma, então SHU podemos colocar aqui como baixa maturidade, e mesmo que se faça tudo conforme o livro, guia ou manual, a maturidade é baixa devido ao ambiente que estamos.

Ao alcançar o HA temos uma maturidade média, e ao chegarmos depois de muita cicatriz de combate ao RI atingimos a maturidade alta.

Então, maturidade no ágil, não tem a ver com fazer métodos, ter papéis, usar ferramentas, ter um backlog com histórias, pontuar com Planning Poker Card, ter um Kanban com WIP limitado, tudo isso irá te ajudar a começar e irá mostrar que a sua maturidade ainda é baixa, então o que é ter uma maturidade alta no ágil e como mostrar isso?

Continue lendo que vou começar a te responder esta pergunta!

Como medir e ter alta maturidade ágil

Alta maturidade ágil é ser altamente adaptativo mantendo entrega de resultado de produto e de negócio comprovada e explicitada. Explica melhor ai Fábio? Claro, vamos lá!

Para deixar bem claro e de forma prática, caso você queira medir a utilização de práticas, métodos, documentos, artefatos, realização de reuniões, cerimônias e eventos, e a existência de papéis e suas responsabilidade, você pode fazer isso, porém considere um limite de score de maturidade para isso, considere que mesmo que você alcançar um 100% em todas estas variáveis a sua maturidade ainda será baixa, por exemplo, não deixe passar de trinta ou quarenta porcento de maturidade em uma escala de 0 a 100. 

E os outros sessenta a setenta por cento estão onde? Estão nos resultados! Devem ser medidos através dos resultados.

Em ambientes preditivos é possível medir a maturidade observando o uso de boas práticas, já em ambientes adaptativos as práticas mudam com alta frequência, e times, produtos e serviços dentro de uma mesma empresa, e até próximos uns dos outros, não necessariamente vão usar as mesmas práticas, vão ter a mesma composição de time e vão precisar das mesmas responsabilidades distribuídas entre as pessoas. Por isso a medição de maturidade tem que ser no resultado gerado pelos times, produtos e projetos.

Organizações mais maduras conseguem entregar mais valor com menos esforço e menores perdas, principalmente quando se fala em perdas, ou desperdícios, as empresas mais maduras tem muito menos do que as imaturas.

O importante são os conjuntos seguir:

  1. O que o seu negócio entende como resultado? O que o seu produto precisa gerar de valor para o seu cliente? O seu time está conseguindo saber isso, entregar isso e aumentar estes resultados? Então a sua organização tem uma maior maturidade.
  2. Se você precisar mudar rapidamente o planejamento das próximas entregas do seu produto, projeto ou serviço, isso é fácil? Isso é rápido? isso é possível? Se sim, provavelmente você tem maior maturidade.
  3. Sempre que algo muda, um caos é gerado na sua organização? Se o escopo mudar tudo atrasa e conflitos acontecem? Se algo muda uma caçada as bruxas começa e todo mundo briga com todo mundo acusando um ao outro de ter falhado e ter sido incompetente em não prever a mudança? Mudanças de escopo, prazo e custo não são bem-vistas na sua organização e sempre geram estresse? Então provavelmente sua organização tem baixa maturidade ágil.
  4. O quanto você consegue identificar o resultado do seu produto e negócio e trabalhar para ele, o quanto você consegue medir este resultado e acompanhar ao longo do tempo como e quando está atingindo este resultado, são medidas ótimas para medir a maturidade ágil do seu time.

Aproveitando, vou deixar um link no final deste artigo de um outro artigo que escrevi sobre métricas ágeis, onde falo bastante sobre exemplos de resultado de negócio e produto em ambientes ágeis. Confere lá.

Bom, é isso! Maturidade Ágil não tem a ver com métodos, práticas ou ferramentas, tem muito mais a ver com a sua velocidade de inspeção e adaptação em prol de resultados para o seu time, produto e negócio. Então se você tem ou está pensando em montar um radar de maturidade ágil, reflita sobre isso e só monte se conseguir medir resultado de produto e negócio, caso contrário, deixe isso para lá e não arrume confusão.

Se você chegou até aqui não vá embora sem deixar sua contribuição. Me conte ai nos comentários se você concorda ou discorda de mim e se você tem algum caso para contar sobre este tema.

Referências:

Artigo sobre métricas ágeis:

https://hiflexconsultoria.com.br/cuidado-com-as-metricas-ageis/
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