Olá pessoal,
No artigo de hoje quero dar uma visão sobre um assunto que tem dado o que falar no mundo de projetos: “modelos híbridos”.
Como todo o tipo de discussão que é levantada ultimamente em redes sociais sobre qualquer assunto, as reações são totalmente dicotômicas e acaloradas:
- “É isso mesmo! Temos que adotar modelos híbridos. Ágil só serve p/ empresas de TI ou pequenas empresas”
ou
- “Herege! Você quer o retrocesso dos métodos ágeis”
Quem acompanha meu trabalho há algum tempo sabe que minha opinião sobre o termo “modelo híbrido” é que ele não passa de um “nome bonito” para algo que existe desde sempre na gestão de projetos chamado “tailoring” ou “tailor-made”, ou seja, customizar e unir métodos para criar uma solução eficaz para o seu problema.
Já falei muito sobre estas questões do que acredito ser modelo híbrido de verdade, em especial neste artigo e neste outro artigo.
Mas tem algo me preocupando muito ultimamente. Muitas empresas e pessoas estão usando o termo Modelo Híbrido como desculpa para usar um método de forma errada, equivocada ou distorcida (seja o método ágil ou tradicional).
Acima dois exemplos clássicos de distorção e frases clássicas que já ouvi. Entre outros equívocos, pelo menos em minha visão:
- “Usamos método ágil adaptado na nosso gerenciamento de projetos. Nossa Daily Meeting é semanal” (Ora, se a reunião é semanal então não pode ser chamada de daily meeting. Outra coisa a reunião diária é uma inspeção diária que gera plano de ação e, principalmente, é uma ferramenta simples e eficaz de gestão de risco. Deixa-la de forma é fazer um uso inadequado do método)
- “Usamos o método ágil mas pulamos aquela tal de reunião de retrospectiva. Vamos aprendendo no meio do caminho. Não temos tempo para parar p/ bla bla bla e mimimi. Aqui é trabalho!” (Estamos tirando o A do ciclo PDCA, onde fica a melhoria contínua neste caso)
- “Aqui usamos modelo híbrido pois temos que ter muita documentação por conta do CMMI”. (CMMI não foca em documento, foca em processos e é 100% aderente com métodos ágeis sem gerar grandes distorções. Leia o que penso a respeito neste artigo).
- “Aqui até usamos alguma coisa de Kanban e Daily Meeting, mas temos que seguir o nosso template de 34 páginas de termo de abertura de projeto e 237 páginas de Business Requirement pois seguimos a metodologia do PMI” (Primeiro: não existe metodologia do PMI. Segundo em lugar algum do PMBOK são mencionados padrões ou quantidade mínima de páginas para artefatos de gestão de projet0s)
- “Aqui até usamos alguma coisa de Kanban e Daily Meeting, mas todo o projeto temos que montar uma WBS detalhando todos os pacotes de trabalho no menor nível de detalhe possível.” (Ora, por que não usar a WBS como uma maneira estruturada de pensar em épicos e features de forma progressiva, utilizando os conceitos do Prince2 de decomposição por produto)
Agora exemplos claros de aplicação correta de modelos híbridos acontecem em alguns casos da construção civil, onde:
- O projeto parte de um planejamento preditivo e cascata para começar
- As equipes de construção trabalhem em ciclos PDCA de duração fixa (Alguém aí pensou em Sprints?”)
- O foco do ciclo (Sprint) é atingir metas de trabalho e não necessariamente o produto (Ironia que comumente escuto: “Sei, cada Sprint entrega um andar?”)
- As equipes usam Kanban e Daily Meeting, reuniões de planejamento e retrospectiva.
- Os ciclos curtos fazem com que as equipes otimizem seu fluxo de trabalho, buscando eliminar todo e qualquer tipo de desperdício no processo (Alguém aí pensou em Lean?)
Mas vários conceitos do ágil puro como Product Backlog emergente, escopo flexível, artefatos leves não são utilizados devido a característica preditiva do projeto, mas os ciclos ágeis ajudam a eliminar os riscos envolvidos, a otimizar o processo de trabalho e gerar aprendizado rápido e melhoria contínua.
Saiba como extrair o melhor dos métodos existentes usando a ferramenta adequada para o problema adequado.
Abraços e até o próximo artigo!